sábado, 16 de maio de 2009

Demitiram o Rubem Fonseca



Sério.

Li ontem e hoje na Internet. A Cia das Letras terminou sua relação com o Rubem Fonseca e nenhuma das partes toca no assunto – se bem que o Rubem não toca em nenhum assunto, a não ser que seja em livro.

Mas daí me assusto. Com a crise, com tudo. Será que a marolinha bateu na Cia das Letras e molhou as páginas do Rubem Fonseca? Será isso? A indústria editorial tá demitindo autores sessentões e caros pra cortar custos? E vai substituir Os Caras por estagiários, escritores jovens e baratos (no sentido que você preferir), com vontade de escrever e entregar um livro por mês, dois se for preciso? Experiência e talento não velem mais nada nem no ramo editorial? Não, essa não é a lógica do mundo dos livros até onde eu sei.

Só que continua o fato de que demitiram o Rubem Fonseca.

E, junto com o fato, a pergunta: por quê?

Se o Rubem Fonseca, autor de Feliz Ano Novo, A Coleira do Cão, Lucia McCartney e vá etecétera nessa lista, se ele não é mais interessante pra editora, quem é?

Se o Rubem Fonseca não serve mais, que esperança eu posso ter na literatura? Será que esse é o começo da morte do romance? Ou a profecia do Rubem Fonseca publicada aqui se realizou e os leitores dele todos morreram?

Não, mas peraí, eu estou escrevendo esse texto aqui. Supõe-se que eu esteja vivo. E eu sou um leitor do Rubem Fonseca, logo a profecia não se realizou. Ou eu tenho que tomar muito cuidado ao atravessar a rua hoje, ao comer uma bala soft e com fortes emoções. Posso ser eu o último leitor o Rubão? Correndo riscos sérios de abotoar o paletó?

Espero que não.

Mas mesmo assim essa notícia continua esquisita.

Parece uma história escrita a quatro mãos pelo pelo prórpio Rubem e pelo dono da Cia. E eu gostaria muito que fosse, pra eu não perder um pouco da crença no poder dos bons livros, dos grandes escritores.

Porque, sério, se o Rubem Fonseca tá sobrando, o que sobra pra mim, como leitor e como escritor?

Como leitor por imaginar o Veríssimo, o Gonçalo Tavares e todos os meus ídolos em risco, tendo que buscar nos classificados não uma inspiração, mas um emprego.

E que sobra pra mim como escritor também. Eu que não sou nenhum Rubem Fonseca, e não creio que vá chegar a ser, que resto de esperança posso ter de um dia ter assinado na carteira de trabalho “escritor”, nem que seja por meio período?

Se bem que não é pra isso que se escreve, eu acho. Claro que todo mundo que escreve gostaria de fazer isso sem se preocupar se amanhã vai ter luz em casa pra ligar o computador, ou uma cerveja na geladeira – se não tiver faltado luz. Mas a motivação não é o contracheque. O próprio Rubem não vai parar, eu sei. Pode tar engrossado as estatísticas do IBGE sobre desemprego no Brasil, mas como ele mesmo disse no supralinkado texto:

Os leitores vão acabar? Talvez. Mas os escritores não. A síndrome de Camões vai continuar. O escritor vai resistir.

Resiste, Rubão. Teus leitores vão fazer o mesmo.

sábado, 15 de novembro de 2008

Lugares comuns na Feira



Taí, será que a maioria dos leitores do Vaia são portoalgrenses ou moram em Porto Alegre? Se sim, se tu é da maioria, segue lendo. Se não ou se tu não é da maioria, lê só por curiosidade.

É que são só mais 3 dias de Feira do Livro.
Confesso que eu deveria ter escrito isso antes.
Mas antes tarde do que nunca, diz o lugar comum.

Falando no tal, o lugar comum, um recente em épocas de Feira é que Feira não tem mais a mesma graça, não tem mais achados, não tem mais por quê. Eu já ouvi isso. E bastante.

Bom, sou jovem. Quando a Feira do Livro surgiu, eu não era nem projeto. Mas desde que virei projeto de leitor, sempre vou. Nem que seja pra ver tanta livraria tão próxima uma da outra. E que seja porque tem um jogo de acaso que eu acho legal na Feira, que é do livro te encontrar. É diferente de ir numa megastore ou num sebo, com uma diretriz na cabeça. Na Feira, por mais que tu tenha uma listinha de livros, algum volume vai te achar, vai saltar da caixa pro teu colo. É só dar chance, é só olhar pros saldos. Por isso, no mínimo na noite da abertura e no dia do fechamento, estou por lá. Se der pra ir mais, vou com todo o gosto.

E acho que esse ano, contrariando o lugar comum, a coisa tá até melhor. Sim, os livros novos continuam, na sua maioria, com desconto. Mas as caixas, não sei se por causa da crise, não sei se pelo baixo movimento (não sei o que gera o quê), parece que nas caixas os livreiros resolveram depositar algumas belezuras, pra ver se caras como eu continuam depositando fé na Feira. Pra exemplificar, algumas coisas que eu mesmo comprei pagando na faixa de mais ou menos dez pilas.

- Vol. 3 do Teatro Completo de Shakespeare (tradução do Millôr)
- Vale Abraão, da portuguesa Augustina Bessa-Luis em novíssimo estado.
- Novelas Exemplares e A Espanhola Inglesa, do Cervantes
- A Décima Segunda Noite (que saiu há muito pouco) e Aventuras da Família Brasil, do Luis Fernando Veríssimo
- História do Cerco de Lisboa, do Saramago
- A Viagem Vertical, do Enrique Vila-Matas
- A Arca de Noé, do Vinícius de Morais
E comprei mais. E vi Raymond Carver, Philip Roth, Nelson de Oliveira, Machado de Assis e muita gente que minha memória não lembra mais (ou não quer entregar de bandeja) por esse mesmo valor. Quer ainda mais? Eu quero também e sei que tem. Por isso que no domingo, se tu der uma volta pela Feira, vai me ver por lá. Mas eu não garanto que eu vá te ver, porque estarei fuçando em alguma das barracas.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mas que Filho da Pauta



Essa eu tenho que dividir com alguém. Então espero que alguém leia essa coluna. O Bill Gates não fala palavrão. Se eu conversei com ele já? Não, nem perto disso. Mas descobri que ele tenta dar uma de Big Brother nos meus contos. E colunas também. Sério.

Vê essa merda aqui que eu escrevi? Não, não me refiro ao parágrafo anterior, falo da palavrinha mesmo, da soma do m +e+r+d+a. Pois é, o Bill faz cara feia pra ela.

Na verdade, ele começou fazendo cara feia pra puta. Que ele prefere chamar de pauta, sabia? Se é algum eufemismo politicocorreto, não sei. Mas sei que ano passado cheguei faceiro em casa pronto pra escrever um conto chamado Filho da Pauta em Dia dos Pais. Não, Filho da Pauta Em Dia dos Pais. Mas será possível: Filho da PUTA em Dia Dos Pais. Rapaz, eu digitava puta, e ele me corrigia no automático: pauta. E eu tentava, retentava, até que dei um driblezinho e segui adiante. Mas cada puta que aparecia no texto ficava lá, com aquela caretinha vermelha que o Word faz pra ti quando tu escreve uma palavra errada.

Deixa estar, pensei. Depois é só passar o corretor ortográfico e, quando ele te apontar o erro em puta, tu adiciona a palavra e nunca mais esse problema. Meu dicionário do Word tem palavras como o “pra”, “tcharam”, “esquisitando” e tantas outras que fui metendo goela abaixo dele nesses anos de convívio. Sempre considerei ele bem disposto a entender o meu português.

Então fiz. Apertei F7, que pra quem não sabe é o atalho do corretor e, não imaginem coisas, fiquei esperando a puta aparecer. Quando ela pintou, eu, inocente, cliquei Adicionar ao dicionário. Ou Word ou é mais inocente que eu, ou se fez. Mas não assimilou o comando. Cliquei de novo, e nada. Mais uma vez. Nada. Filho da puta, eu pensei e dei graças a deus pelo meu cérebro não ter corretor ortográfico. Cheguei a cogitar que em vez de um Word 2003, eu tivesse um 1900, sei lá eu. Mas não, era 2003, só que da turma do politicamente correto. Bueno, fiz o que faço com essa turma, cliquei em Ignorar e segui o baile.

E segui fazendo isso e comprovando que o Word é o próprio politicamente correto. Muitos cus, merdas, bucetas e porras escrevi depois disso. E ele continuou me alertando. Me corrigindo. Mas, como adotei o ignorar, fingir que ele não existe, as coisas ficam por isso mesmo. Meus textos saem impressos do jeito que eu quis e ele fica lá, satisfeito por ter sublinhado meu mau comportamento vocabular.

Mas seguinte, Word, tu pode ser hipócrita. Só que eu não sou. E trouxe essa história a público, botei na internet, pra ver se tu vai me corrigir, assumir de vez tua posição contra minha boca e meu teclado sujos. Vem, sublinha, apaga, elimina meu texto da rede.

Se nada disso aconteceu, talvez eu tenha corrigido meu corretor ortográfico.Ou talvez ele seja polido demais pra brigar comigo em público.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Auto-conhecimento



Sabe aquela verdade, aquela máxima de que viajar é ótimo pra se descobrir, pra auto-conhecimento? Foi o que aconteceu comigo.

Andei por São Paulo há coisa de um mês atrás e, em pleno vôo de ida, pronto: descoberta aterradora, devastadora, insuspeitável a respeito de mim. Fetiche com aeromoças? Um terrorista ao meu lado? Alergia a barras de cereal? Nada disso. A descoberta estava no didático cartão de instruções da simpática Ocean Air.

Enquanto o avião corria pela pista pra decolar e tirar o frio da barriga dos passageiros, naquele momento em que ainda é incômodo pra abrir um livro, recorri ao tal cartãozinho.

Daí, porque eu estava junto da saída de emergência ou porque viagens proporcionam descobertas, meus olhos pousaram direto nas instruções sobre essas tais janelas que ninguém gostaria de ter que abrir. E lá estava exatamente assim:

Não devem sentar próximos às saídas de emergência: menores de 15 anos, portadores de deficiências, passageiros com pouca mobilidade, força ou habilidade para operar as saídas e ajudar os demais e passageiros que não compreendam bem estas instruções.

Compreendeu bem?
Instruções: Não devem sentar próximos às saídas de emergência (...) passageiros que não compreendam bem estas instruções.

Eu vinha bem até a última parte das instruções, mas daí veio a minha auto-descoberta: não sou sujeito apto a sentar junto à saídas de emergência, não entendi qualé que é a dessa última instrução. Chamei a aeromoça, expliquei a situação e fiquei admirando o corajoso sujeito que tomou meu lugar e pensando: ou ele é um gênio e entendeu tudo, ou entendeu menos ainda.


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